Uma investigação jornalística jogou luz sobre o uso de dinheiro público no gabinete do deputado paraibano Hugo Motta (Republicanos) e levantou um escândalo de proporções nacionais. A reportagem do portal Metrópoles revelou que Gabriela Batista Pagidis, nomeada secretária parlamentar desde 2017, recebeu mais de R$ 807 mil em salários ao longo de oito anos sem exercer, na prática, nenhuma função ligada ao mandato. Aos 30 anos, Gabriela atua como fisioterapeuta em duas clínicas privadas de Brasília e mantém uma rotina incompatível com qualquer jornada no Congresso Nacional.
Flagrada na semana passada, Gabriela foi vista atendendo pacientes em consultórios às segundas, terças, quartas e quintas. Na sexta, frequentava academia pela manhã e passeava à tarde no Zoológico de Brasília. Ainda assim, segue registrada como servidora da Câmara dos Deputados até ser exonerada, após a denúncia vir à tona.
A apuração usou a Lei de Acesso à Informação (LAI) para tentar checar registros de entrada da funcionária na Câmara. A resposta da Casa surpreendeu: não há controle de ponto obrigatório para quem possui crachá de servidor, e a fiscalização da frequência fica a cargo exclusivo do gabinete parlamentar.
Não é caso isolado
A situação de Gabriela não é um ponto fora da curva. Segundo apuração da Folha de S.Paulo, outras duas servidoras do gabinete de Hugo Motta também são alvos de suspeitas semelhantes.
Louise Lacerda, estudante de medicina em tempo integral em João Pessoa, recebe salários da Câmara desde 2018. A carga horária do curso inviabiliza o cumprimento das 40 horas semanais exigidas pela função.
Monique Magno, nomeada em 2019, acumula a função de secretária parlamentar com um cargo na Prefeitura de João Pessoa, onde atua como assistente social com carga de 30 horas semanais. A legislação proíbe a acumulação de cargos públicos com incompatibilidade de horários — o que, aparentemente, está em pleno curso.
Com a repercussão das denúncias, Gabriela e Monique foram exoneradas. Louise, até o momento, permanece no cargo.
O que diz Hugo Motta?
Em nota, a assessoria de Hugo Motta tentou minimizar o impacto das revelações. “O deputado preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações dos funcionários de seu gabinete, incluindo os que atuam de forma remota e são dispensados do ponto dentro das regras estabelecidas pela Câmara”, diz o comunicado.
A defesa, no entanto, não convenceu setores da opinião pública, que veem nas denúncias um retrato da fragilidade dos mecanismos de controle da frequência e produtividade de servidores no Legislativo federal.
O escândalo acontece justamente quando Hugo Motta preside interinamente a Câmara dos Deputados.