1964 x 2022: o que mudou e o que permaneceu na relação dos militares com a democracia?

A atuação de militares contra governos civis eleitos democraticamente marcou tanto o golpe de 1964 quanto a tentativa de ruptura institucional após a eleição de 2022. Em ambos os casos, oficiais do Exército se colocaram como tutores da sociedade e contestaram a soberania popular, tentando influenciar os rumos do país à revelia do voto.

Para especialistas, essa visão persiste na formação militar e reforça a necessidade de reformas nas Forças Armadas. O historiador Manuel Domingos Neto afirma que o “espírito corporativo” do Exército fez com que, em diferentes momentos da história, os militares se sentissem no direito de interferir na política.

Apesar das semelhanças, há diferenças marcantes entre os dois momentos. Em 1964, o golpe teve amplo apoio da burguesia nacional e dos Estados Unidos, que viam a ditadura como um aliado contra o comunismo. Já em 2022, os setores empresariais estavam divididos e não houve respaldo externo. Para a historiadora Carla Teixeira, esse isolamento foi determinante para evitar o sucesso da tentativa de golpe.

Outro ponto de convergência entre os períodos é a construção de um inimigo interno. Na ditadura militar, o discurso era contra uma suposta ameaça comunista. Já em 2022, o bolsonarismo impulsionou narrativas como “marxismo cultural” e “ideologia de gênero” para justificar suas ações autoritárias.

Além disso, em ambos os casos, o empresariado rural teve papel central no financiamento das ações golpistas. Documentos e investigações recentes mostram que fazendeiros bancaram acampamentos de manifestantes após as eleições de 2022, assim como setores do agro foram fundamentais no apoio ao golpe de 64.

A consolidação da democracia também é um fator diferenciador. Em 1964, o país ainda engatinhava no processo de urbanização e participação política. Já em 2022, a sociedade civil e as instituições estavam mais fortalecidas, tornando mais difícil a imposição de uma ruptura democrática. “O banho de sangue teria que ser muito grande para conseguirem se manter no poder”, avaliou Manuel Domingos Neto.

O fracasso da tentativa golpista recente expôs os limites da influência militar na política, mas também alertou para os riscos de uma visão ainda presente nas Forças Armadas: a de que cabe aos militares arbitrar o futuro do país.

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