Ele já foi tudo. Prefeito de Campina Grande. Governador da Paraíba. Senador da República. E agora? Agora, Cássio Cunha Lima (PSD) diz que não sente falta de nada disso. O homem que escreveu (e reescreveu) capítulos decisivos da política paraibana nas últimas três décadas se descreve como alguém que finalmente conquistou “qualidade de vida”. A grande surpresa? O ex-todo-poderoso da política estadual jura que não quer mais voltar ao jogo.
Mas, como todo veterano que conhece os atalhos e as sombras do poder, Cássio sai de cena sem sair de verdade. Com o discurso de quem já fez tudo o que tinha que fazer, ele continua orbitando os bastidores e ditando os rumos do clã Cunha Lima, agora sob o comando do filho, Pedro Cunha Lima — que, aliás, quase virou governador em 2022 e deve tentar de novo em 2026.
Durante entrevista ao jornalista Arimatéia Souza, Cássio soltou uma pérola que define bem seu lugar na política atual:
“Hoje eu apanho nas duas orelhas. Algumas pessoas da direita acham que eu sou um comunista, algumas da esquerda acham que eu sou um fascista.”
A fala tem gosto de desabafo e tom de ironia, mas revela também o desconforto de quem não se encaixa mais num cenário dominado por radicalismos. Cássio, que sempre transitou entre centro-direita e centro-esquerda conforme o vento, agora é um náufrago político num mar de extremos.
Sua trajetória é marcada por alianças e rompimentos estratégicos: apoiou Lula nos primeiros mandatos, depois foi oposição ferrenha a Dilma e ajudou a derrubar o governo petista no impeachment. Flertou com Bolsonaro, mas nunca chegou a assumir um namoro político de fato. Resultado? Não tem mais “lado”. E no Brasil polarizado de hoje, quem não tem lado vira saco de pancada.
Apesar de negar o desejo de retornar a um cargo eletivo, ninguém ousa deixar Cássio fora da equação de 2026. Seu silêncio é ruidoso. Sua presença, mesmo discreta, ainda movimenta xadrezes e articulações. E mesmo que repita que trocou o plenário pela paz pessoal, ninguém acredita completamente que um Cunha Lima se aposente sem antes dar o xeque-mate final.
A pergunta que paira no ar é: Cássio quer mesmo ficar fora do jogo, ou só está recuando uma peça para lançar outra com mais força?
Porque, na política paraibana, a história já provou: Cássio nunca está realmente fora.