Gincana política: enquanto Lula busca conter a inflação, bolsonaristas tentam reabilitar Bolsonaro para 2026

Em Brasília, duas gincanas simultâneas expõem as dificuldades tanto do governo quanto da oposição. De um lado, os ministros de Lula correram em janeiro para apresentar soluções paliativas à alta nos preços dos alimentos, depois que o presidente cobrou uma resposta rápida para a inflação. Sem disposição para reformas estruturais, a equipe governista lançou propostas criativas, como mudanças no regime de validade dos produtos e substituição de frutas no consumo popular. No fim, o governo adotou apenas uma medida simbólica: derrubar taxas de importação para alguns produtos e repassar ao Banco Central a responsabilidade pelo controle da inflação.

Enquanto isso, a oposição bolsonarista se empenha em outra disputa desafiadora: encontrar um caminho para devolver a Jair Bolsonaro o direito de disputar as eleições de 2026. Inelegível até 2030 por atacar o processo eleitoral enquanto ocupava a Presidência, o ex-mandatário vê seus aliados tentarem diferentes estratégias para reverter a punição.

Anistia, Ficha Limpa e Foro Privilegiado

A primeira tentativa veio com um projeto de anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023. Como a invasão e destruição da Praça dos Três Poderes faz parte da acusação da Procuradoria-Geral da República contra Bolsonaro, um eventual perdão aos envolvidos poderia beneficiá-lo indiretamente. No entanto, o projeto não encontrou respaldo entre os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). No máximo, a proposta deve ser debatida em uma comissão especial, sem perspectivas concretas de aprovação.

Diante disso, os bolsonaristas passaram a mirar a Lei da Ficha Limpa, alegando que a legislação vem sendo usada para perseguir políticos de direita. Mas essa investida esbarrou em um obstáculo maior: o discurso anticorrupção que grande parte da base bolsonarista sempre defendeu.

Com a anistia travada e a mudança na Ficha Limpa sem apelo popular, a terceira aposta foi ressuscitar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do fim do foro privilegiado, aprovada no Senado em 2017. A ideia seria tirar o julgamento de Bolsonaro do Supremo Tribunal Federal (STF) e levá-lo à primeira instância, onde ele poderia encontrar um ambiente menos desfavorável. Mas essa estratégia tem um problema evidente: o próprio STF, que dificilmente aceitaria passivamente uma manobra desse tipo.

Bolsonaro sem saída

A pressão para devolver Bolsonaro à disputa eleitoral de 2026 mostra que ele ainda tem peso político na direita brasileira—seu partido, o PL, tem a maior bancada da Câmara graças a ele. Mas sua situação segue delicada. Além da inelegibilidade até 2030, ele agora enfrenta um julgamento por tentativa de golpe de Estado e pode ser condenado a décadas de prisão.

Com as portas do Congresso e do Judiciário fechadas para um retorno eleitoral, a última saída para Bolsonaro parece ser a mobilização popular. A ideia seria pressionar o sistema político por meio de grandes manifestações de rua. Mas a primeira tentativa, na orla de Copacabana, mostrou que esse caminho também pode ser mais difícil do que o ex-presidente e seus aliados esperavam.

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